36 horas em Braga, Portugal

É muito fácil visitar Portugal. Pensa comigo: o custo de vida é dos mais baixos da Europa. A comida, os vinhos e os doces são excelentes. É o país europeu com o menor custo de passagem aérea saindo do Brasil e viagens diretas via TAP (recentemente adquirida pela Azul) para Lisboa e Porto. A idéia de que Portugal é “viagem de velho” é bobagem: algumas das universidades mais antigas do continente enchem de vida cidades antiquíssimas como Coimbra e Évora. É uma viagem e tanto para quem pira em história, em turismo de aventura, gastronomia, artes ou compras.
É difícil acreditar que brasileiros não viajem muito mais por Portugal. Não que façamos pouco, não. No ranking de visitantes, estamos atrás dos espanhóis (único país com que Portugal faz fronteira) e ingleses (para quem o Algarve, no sul, é uma opção barata e atraente de veraneio). O problema, e escutei isso de uma agente de turismo lusa, é que o brasileiro usa Lisboa como parada estratégica para seguir para a Espanha ou França. E acaba perdendo a oportunidade de conhecer o país por dentro, uma pena. Pegue por exemplo o belo, selvagem e acessível norte de Portugal, dividido em Minho ao oeste e Trás-Os-Montes no leste. De carro a partir do Porto leva uma hora e pouco para chegar até a divisa com a Espanha. No meio do caminho, cidades como Braga, Guimarães, Viana do Castelo e Ponte de Lima são paradas incríveis para um fim-de-semana.
No começo de junho estive visitando o Minho pela segunda vez. Na primeira usei Ponte de Lima como base e dessa vez fiquei em Braga, perto do Porto, um tipo de capital espiritual lusa com acesso à diversos santuários históricos e naturais. É onde está a catedral mais antiga do país e foi centro do bispado de Portugal por séculos. A Santa Cruz que Cabral usou na primeira missa na recém-descoberta Índia Ocidental, por exemplo, está lá. A mais festejada Semana Santa do país também. Alugando um carro, é a cidade ideal para programar uma escapada pra conhecer o norte do país, onde você vai encontrar cenários dramáticos, caminhadas em estradas romanas e refeições gordas com produtos locais – presentes da generosa natureza lusa.
* Links do simpático BragaCool, que tem roteiros espertos da cidade e oferece mapas, telefones e horários de funcionamento de todos os locais indicados.
Sexta-feira, tarde
A imponente Sé de Braga é algo que você não vai perder. Catedral mais antiga de Portugal, é ponto principal do forte turismo religioso do norte do país. Dá pra gastar um bom par de horas vendo o altar, a capela gótica, os dois orgãos (que são usados nas missas), a capela com azulejos pintados de azul. A tal cruz usada por Cabral fica dentro do tesouro, numa entrada separada, junto a outras peças de valor inestimável. Para visitar o coro, que dá acesso a duas outras capelas, é necessário comprar uma visita guiada (disponível no local) que custa €2.
Saindo da Sé, aproveite o resto da tarde para explorar o centro antigo de Braga, que é limpo, organizado, fácil de explorar e cheio de vida. E com o tempo bom é ideal para caminhar no meio pro fim da tarde e se perder nas ruas limpas e esplanadas, andando oude bici – a Go by Bike aluga.
A Fonte do Ídolo, por exemplo, é uma antiga e preservada fonte do período romano. O Museu Dom Diogo de Sousa guarda tesouros arqueológicos do paleolítico aos Visigodos que ocuparam a região entre os séculos V e VII. O Museu dos Biscainhos vale só pela locação espetacular, é um palácio com relíquias romanas, azulejos e painéis históricos.

Centro de Braga no começo de noite.
Saindo da seara histórica, o GNRation é uma incubadora que recebe arte moderna, shows de jazz e performances teatrais. E o belo Museu da Imagem realiza mostras de fotografia. Termine com uma parada na Livraria Centésima Página, que ocupa um casarão barroco e tem um jardim delicioso. Ou com chá e docinhos no Cores de Chá. Ou com uma prova de vinhos portugueses na esplanada na frente da Sé, onde você vai achar o Encantos da Minha Terra.
Mas guarde espaço para jantar! Estamos no norte de Portugal e encher a barriga com comida pesada e deliciosa é uma obrigação moral e não faltam restaurantes ótimos na área. Minha sugestão para seu primeiro jantar em Braga: Taverna do Migaitas. Você pode passar horas se deliciando com porções de embutidos, queijos, pataniscas de bacalhau, miúdos e afins. Ou pedir um dos pratos de carne de caça, acompanhado de ótimo vinho verde do Minho – que pode ser branco (leve, fresco e ácido) ou tinto (forte e escuro, eu adoro, mas tem quem considere “um gosto adquirido”).
Um drink encerrar a noite? Port & Tonic na Casa dos Coimbras, colado na Sé.
Imagem da Semana Santa, o principal feriado religioso em Braga. (Foto: Sérgio Freitas/MinhoIN)
Sábado, dia inteiro.
Comece o dia numa pastelaria (o equivalente da nossa confeitaria) como a Ferreira Capa, com direito a pastéis de nata, folhados recheados e pães doces acompanhados de café com leite.
Sua próxima parada é único Parque Nacional do país, o Peneda-Gerês, criado em 1971. Vai da Serra do Gerês, ao sul, até a Serra da Peneda, na divisa com a Espanha. O parque tem dezenas de trilhas de diferentes graus de dificuldade, sempre bem marcadas. Algumas das antigas geiras romanas continuam em uso, com direito a minaretes escondidos no caminho. A entrada mais próxima de Braga é a de Terras do Bouro. O site GoToPortugal vende um guia bem detalhado do parque, em PDF por email.
Quando a fome estiver batendo, atravesse a represa de Furnas e suba rapidamente até a minúscula Brufe para almoçar no O Abocanhado. Construído com pedras e vidro e totalmente integrado à paisagem, esse restaurante premiado fica no ponto mais alto da serra. Há vinte minutos está a Espanha. Logo ali, Trás-Os-Montes.
Recomendo vinho verde tinto, um prato da deliciosa carne vermelha local, sobremesa indicada pela queria Maria Helena e um bom cochilo pós-refeição debaixo da árvore, mirando a paisagem. Conselho: entre em contato antes para checar o funcionamento, já que durante o inverno pode haver alteração nos horários ou cardápio.

Essa foto foi tirada na frente do Abocanhado, exatamente depois de ter uma refeição como a que descrevi acima. Pareço feliz? (foto: Emanuele Siracusa)
Brufe é só um entre os vilarejos do norte de Portugal. Só no Gerês são cerca de 100, com ruas estreitas e vazias, casas de granito, fontes de água limpa ao ar-livre, relógios de sol e senhoras olhando o tempo passar pelas janelas. É a lembrança de um Portugal que está deixando de existir aos poucos, conforme jovens abandonam as vilas na direção das cidades. Elas vão deixar de existir? Não sei dizer. E espero com todo coração que não.
Em cerca de meia-hora de viagem de carro você já estará de volta a Braga. Seu fim de tarde pode ser na bonita Praça da República, cercada por lojas, bares e cafés, uma delícia no fim de tarde. Esse é o centro vivo da cidade, onde grupos se encontram e estudantes se reúnem nos finais de semana. Se quiser estiver a fim de ir noite adentro, que tal drinks num terraço com vista para a cidade velha? Também vale consultar a programação do Juno.

Por dentro do Mosteiro de Tibães.
Domingo, manhã e almoço
Um café para começar o dia no simpático Lusitana, num jardim perto da Avenida Central, um dos mais antigos de Braga.
Se você der sorte de pegar o primeiro domingo do mês na cidade, visite a Feira da Velha (corruptela para mercado de pulgas ou feira de antiguidades) logo de manhã. Quando estive na cidade não consegui encontrar, apesar de ela estar funcionando. Então use esse mapa do VerPortugal para não se perder como eu.
Ou então aproveite a luz da manhã para conhecer o Mosteiro de Tibães, colado em Braga. O mosteiro do sec XI é parte de um complexo que inclui uma igreja. Hoje é usado para eventos (como o Minho Festival) e festas (como as julinas, rolando agora!) e tem um restaurante e uma hospedaria pequena e charmosa, com apenas nove quartos.
Depois, vá ver a escadaria de Bom Jesus do Monte. Lembrou Tiradentes ou Ouro Preto vendo a foto abaixo? Faz sentido. A igreja principal do santuário de Bom Jesus é do séc XVIII, assim como a maioria das construções das nossas cidades históricas que ainda resistem.

A escadaria da Igreja de Bom Jesus: para pernas fortes. (Foto: MinhoIN)
Se você não tem que pagar promessa subindo a pé, saiba que dá pra subir de elevador. E não num simples elevador, mas num elevador movido à água, construído em 1882, o mais antigo do mundo em atividade. O blog Viaje Comigo tem um vídeo que mostra a subida.
Depois, se o dia estiver bom, eu aproveitaria o lindo parque ao redor para fazer como as famílias locais: levando toalha e cesto com delícias (que você pode comprar antes em Braga, tipo no Mercado da Saudade) e fazendo um piquenique.
Ou dê seu tchau! para a região com um almoço de rei na grandiosa Pousada Mosteiro de Amares, que está há menos de meia-hora de distância.
Como circular e onde ficar
Quase não há trens e as opções de ônibus são poucas. É possível ir, por exemplo, de Braga para Bom Jesus ou Tibães com facilidade. Mas o Peneda-Gerês e as vilas, só de carro. As estradas portuguesas são ótimas e bem-sinalizadas, então a melhor opção é e alugar um carro no Porto e chegar motorizado.
Braga é a terceira maior cidade de Portugal e tem hotéis para todos os bolsos e gostos. E como a vida aqui gira em torno do centro, recomendo um hotel próximo à Sé. Passei meu fim-de-semana no hotel Bracara Augusta (que é o nome de Braga quando capital da Galícia romana) no centro histórico, vizinho da Centésima Página. Tem apenas quatro andares, as suítes são pequenas e confortáveis, com belas janelas que recebem luz do sol – peça um quarto de frente para a praça. O restaurante no térreo é ótimo e tem um jardim. Mesmo você não fique aqui, dá para vir tomar um ótimo café-da-manhã ao ar-livre.
Vai lá
http://www.minhoin.com/
http://bragacool.com/
http://www.essenciadominho.com/
http://www.afar.com/travel-guides/portugal/braga/guide
http://www.lonelyplanet.com/portugal/the-north/braga/sights
Hotéis em Braga e região no TripAdvisor
Hotéis em Braga e região no Pestana
A distância entre Braga e Porto são 50km (e não 20km).
Braga tem 10 vezes mais monumentos e locais para visitar e tantos mais restaurantes, bares e esplanadas de visita quase obrigatória, mas entendo que é necessário ficar, pelo menos 5 dias para conhecer o mínimo em Braga…
A sugestão é voltar
Distância corrigida, Catarina. Obrigada pelo comentário. Claro que Braga e a região tem muito mais para mostrar. O post é para um fim-de-semana, que foi o tempo que tive. Espero poder voltar e ver muito mais da sua bela terra. Abs!
ocupe-se em agradecer como a senhora Gaia fez ao escrever estas linhas de agradecimento sobre nossa terra …a distancia que ela referiu é apenas pequeno pormenor até pq os brasileiros tem uma noção de distancias diferente de nós devido ao imenso Brasil edificado tbm pelos portugueses… elogie o essencial e repare o erro sem cair apenas na critica…tipo…”encontrei ai um erro de km´s e blá blá, mas no essencial ficou perfeito na discrição, bem haja!”
Pôr Braga a 20 km do Porto ?!!!
Engraçado que nem uma das pessoas de Portugal para quem mandei o artigo assim que escrito corrigiu isso. E no guia LP que tenho aqui, mostra 20km. Mas acho que oq me confundiu foi a lembrança de uma viagem muito rápida entre Porto e Braga. De qualquer forma, a idéia era mostrar que é muito fácil chegar à Braga. Obrigada pela menção, já foi corrigido. []s!
Ola, eu sou de Braga, acho que nunca tinha lido um programa tão pormenorizado e detalhado do que se pode ver e fazer na minha Terra.
Obrigada pelo gentil comentário, Pedro.
Olá, Gaia!
Gostei do seu roteiro, super aprovado! Estou em Braga há quase um mês, faço doutorado na UMinho, sou de Natal-RN e apaixonada por Braga, por Portugal em totalidade, rsrsrs. Acrescento o quão festivo e simpático é o bracarense, as festas daqui são excelentes, como a Bracara Romana e o São João. Muito bom o destaque que você deu sobre conhecermos mais a terrinha lusa.
Um abraço,
Patrícia
Obrigada, Patrícia! Que cidade incrível para viver e estudar, deu uma invejinha de leve aqui.
Olá Gaia. Excelentes sugestões! Eu diria, quase perfeito. Quase porque faltou a mençao de uns dos locais mais emblemáticos do distrito de Braga, a Pousada Mosteiro de Amares. Antigo mosteiro recuperado pelo Arq. Eduardo Souto Moura. Um local simplesmente magico situado em Amares (Braga). Bem haja!!!
Legal, Graça! Estive em Amares e ainda vou escrever sobre.
Boas
Sou bracarense, nascido e criado, adoro a minha cidade e não a troco por mais nenhuma.
Como bracarense, sinto me obrigado a agradecer este texto…
Venham, que serão todos muito bem recebidos.
Fiquei agarrado ao seu texto simples mas muito bem escrito que consegue levar a nossa imaginação para os momentos e locais que vivenciou, muitos parabéns adorei.
Oi Gaía, Provavelmente a confusão com a distância entre Braga e Porto vem do facto de ter como referência o aeroporto que é muito mais próximo que a cidade do Porto. Assim eu diria que a distância do aeroporto a Braga são cerca de 40 km embora estes detalhes não sejam relevantes. Importante, creio eu, era conhecer a grandiosidade da Braga romana ( 5 dias de festa e animação ininterrupta em meados do mês de maio) e o S. João meados de junho (principalmente dias 23/24). Não vejo referência no seu artigo a uma das mais belas salas de espetáculos do país: “Theatro Circo”. Compreendo que 36 horas não deu para mais e achei o artigo muito bom. Como Bracarense os meus agradecimentos e, se puder, volte nas datas que sugeri, ficará certamente fascinada! Poderá ver no “youtube” um pouquinho só para adoçar o apetite.
Goste!!!
Como é bom para mim ouvir a historia da minha Cidade onde nasci d cresci, infelizmente deixou ha 5 anos ( mudei para a Australia com a minha familia) mas quando fui de ferias no ano passado fiz questao de levar os meus filhos a conhecer as maravilhas de Braga!!!
Eles adoraram e o mais Velho fez um projecto para a escola sobre Braga e todos ficaram fascinados !!!
Assim fica com a paixao no Sangue
Vim para Braga para ficar cá 3 anos e já passaram 31.
Gosto de viver aqui e apaixonei- me por esta TERRA.
Gostei da maneira como descreveu esta cidade e gostaria e trocar algumas ideias consigo.
Agradeço que me diga o seu email.
Obrigada
Oi Fatima. Você pode achar meu email e demais contatos no link SOBRE/CONTATO aí no menu. Obrigada!
Gaía adorei seu texto!!!! Estou indo à Braga no próximo mês. Cada vez que leio, mais me apaixono por este lugar maravilhoso!!! Bracarenses queridos, lá vou eu!
Gaía super bj!
Oi Gaía. Sou Bracarense, e adorei o seu roteiro, para 36h é excelente. De facto penso que toda a historia desta cidade aliada a universidade do minho, fazendo a cidade uma das mais jovens da Europa, a torna cheia de energia e vontade de por ca voltar. O mesmo que senti quando vivi 3 meses em São Paulo!
…e umas boas horas são passadas no Gerês :) http://www.facebook.com/geresviverturismo | http://www.geres.pt
Olá!
Que bela viagem! E muito obrigada por ter mencionado o Viaje Comigo no video :D
Boas viagens!
Susana Ribeiro
Um bem haja, vivo no meio entre Braga e Ponte de Lima, gostei do que escreveu com detalhe e bom gosto, até á próxima, cumprimentos
bela demonstração do nosso Minho…obrigado a esta linda e humilde “menina” Srª Gaía Passarelli por divulgar maravilhosamente um pouco do nosso grande Portugal cá da “terrinha” (termo que muitos brasileiros costumam carinhosamente usar para designar o Portugal de cá)