Tá todo mundo tentando: Carnavalizar
E como entender e ajudar a tragédia do litoral norte
Para ler ouvindo ▶️ “Obá Inā", do Metá Metá no disco da Charanga do França. Aproveita pra ler essa entrevista que fiz com o Thiago no preparo do Carnaval de 2022.
Carnavalizar
É Carnaval, cidade, acorda para ver. Carnaval 2023 começou com a Lua em Escorpião. Que não é o astral certo para bagunça, mas tanto faz. Carnaval não respeita nada, nem astrologia. Valeu Jesus por essa grande avacalhação.
Eu, ansiosa que sou, estou sempre adiantada em relação aos astros. O período astral que pedia recolhimento começou para mim antes da festa. O que veio depois foi uma energia pisciana cheia de profecias irrealizáveis, que assim como veio, foi. Na segunda-feira, quando certas pessoas já pediam arrego da bagunça, levantei às sete da manhã, inspirada por não sei qual trânsito em Áries, disposta a voltar para casa só após escurecer. Funcionou: foi um dia de carnaval perfeito, com sol, chuva, muvuca, bebida e uma porção de peixe frito no boteco para esbórnia descer suave.
Mas não fui sempre assim. Nascida no Carnaval, tive muitas festinhas de aniversário com fantasias na infância. Depois adolesci numa época em que o Carnaval era ver o desfile pela televisão e quem sabe viajar. Não tinha tradição carnavalesca na minha família, e bloco de rua era uma coisa curiosa e distante. São Paulo no Carnaval era terra arrasada. Nem McDonald's abria. Acho que foi em 2010 que isso começou a mudar. Lembro de ver amigos, em 2012, saindo em um cortejo no Centro. Eu mesma só embarquei em 2015, quando um grupo me resgatou do isolamento em casa. Botei uma blusa brilhante, shortinho, par de óculos escuros bons de perder e fiquei horas ali na Dom José Gaspar observando de canto e meio pensando "ah, é assim que funciona?" Era assim que funcionava mesmo. Fui pega. E venho evoluindo, aprendendo o que fazer e aonde ir, sempre com alguma ajuda de amigos.
Também em 2015, comprei uma cabeça bonitinha, com rosas vermelhas e pássaros azuis, e a Charanga do França, que na época saia de tarde, me presenteou com o primeiro grande temporal de Carnaval da minha vida. Santa Cecília virou um rio. Tinha gente fazendo piscina nas caminhonetes da CET. Uma menina fantasiada de atleta olímpica mergulhava na água marrom. Aquela explosão de euforia que só conhece quem já viu, e para quem não viu não dá explicar: é Carnaval, meu bem.
Carnaval, pré e pós, para mim é a celebração máxima da coragem de ser feliz. É tempo de deixar as pessoas: o julgamento você guarda para você. Pode oversharing, bloco com temática rock, camarote com celebridade e pulseira. Pode tudo, inclusive aquela quarta latinha de Cheque Mate — que não tem esse nome por acaso.
Voltando ao escorpião: do bicho com ferrão, levo também a capacidade de trocar de esqueleto quando mudo de tamanho. Dizem que a parte ruim é que o escorpião se ressente demais de qualquer coisa, real ou inventada, guardando rancor como quem guarda dinheiro no colchão. Eu, não. Viver com dúvidas (ou dívidas) dá rugas. Vale para o bloco: se aquele não estava dando conta das suas expectativas, toca para o próximo. Pelo menos em fevereiro não falta opção. Quando você aprende a ser leal à própria natureza, tudo é oportunidade. Ainda mais quando a Lua nova chega. Mas precisa plantar direitinho o que se quer colher.
No bloco, também.
⚠️ Tragédia no Litoral Norte: entenda
Entre as muitas reportagens sobre os deslizamentos de terra que destruíram parte do litoral norte de São Paulo no último final de semana, levando casas e famílias debaixo da mais forte chuva já registrada no Brasil, nenhuma falha em mencionar o fator humano: a culpa não é de São Pedro. O Geopanoramas, do geografo e documentarista Adriano Liziero, fez uma análise visual que resume muito bem o cerne da questão. Ele também tem uma newsletter ótima sobre questões ambientais do Brasil. Por favor, veja até o final:
Mas é preciso também trazer respostas: como responsabilizar o poder público que deveria prover a segurança dessas famílias? como evitar que as tragédias continuem se repetindo?
O escritor Sergio Abranches, em artigo para a Headline, fala um pouco sobre esses dois lados: “Mau uso do solo urbano, desmatamento e ocupação de encostas são as verdadeiras causas dos desastres. A boa notícia é que o governo quer pensar o futuro além da emergência.” Leia aqui.
E não deixe de ouvir O Assunto, dessa semana. Natuza Nery fala com Moisés Teixeira Bispo, líder da Central Única das Favelas (Cufa) em São Sebastião, morador da Vila do Sahy e sobrevivente da tragédia, e com o professor Anderson Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades da Unifesp:
Já o Café da Manhã, da Folha, traz entrevista com a jornalista Ana Carolina Amaral, secretária-executiva da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, sobre as políticas de prevenção possíveis que já estão ou deveriam estar em ação, e como evitar que as tragédias das chuvas continuem acontecendo todos os anos:
⚠️ Tragédia no Litoral Norte: ajude
Campanha #tamojunto Gerando Falcões
Pix através do CNPJ 18.463.148/0001-28 ou pix@gerandofalcoes.com
Todo o valor arrecadado será destinado à compra de alimentos, roupas e colchões.
A Ação da Cidadania tem diversas modalidades de doação, com qualquer valor, inclusive com cartão de crédito.
O Fundo Social de São Paulo está recebendo doações. Se for doar produtos, dê prioridade a água mineral e alimentos não-perecíveis. Fundo Social de São Paulo - Av. Marechal Mário Guedes, 301, no Jaguaré, das 8h às 17h. Além de doações em dinheiro.


As 120 famílias indígenas da Terra Indígena Rio Silveira estão desalojadas e isoladas. É possível fazer doações de alimentos e produtos na sede da Funai e na Prefeitura de Bertioga, e doar dinheiro através do Pix CNPJ 21.860.239/0001-01, em nome da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização representativa do povo Guarani nas regiões Sul e Sudeste.
Gaía, tudo bem?
Primeiro, queria falar que admiro muito o seu trabalho! É muito bom fazer parte da comunidade de escritoras e acompanhar o seu desempenho é gratificante.
Vim aqui falar de um projeto meu. Tive a ideia de criar o Caos Newsletter para você ficar antenado dos assuntos relevantes (ou nem tanto assim) da semana.
Toda sexta-feira de manhã você vai receber um texto escrito por mim sobre assuntos como atualidade, política, feminismo, enxaqueca e muito mais. Basta se inscrever em caosnewsletter.substack.com
Estou sempre aberta para críticas e opiniões, mas lembrem que eu sou uma libriana sensível. :)
O insta é @caosnewsletter
Aliás, não sei se sabe, mas se fui gostar de carnaval, foi muito por você. O meu primeiro carnaval de verdade, que eu gostei, que entendi como funciona, tinha você na roda. Velhos tempos lindos.