👢Tá Todo Mundo Tentando: feito para durar
Procurando o que seja forte o suficiente para o dia a dia, e barato o suficiente para pagar à vista.
Oi,
Nunca é fácil, mas tem semanas em que é mais difícil. A batalha é menos contra a imaginação e mais contra o tempo. Para evitar cair na armadilha facílima da IA generativa, tenho me programado para escrever antes. O ideal, para mim, é escrever aos poucos. Às vezes, o texto vem de uma divagação do meu diário (já contei aqui que pratico a escrita matinal, ultra pessoal e sem freios, em cadernos de papel, com canetas bonitas). É bacana quando isso acontece, tem toda uma naturalidade envolvida. Às vezes, como andou acontecendo em edições recentes, eu dou vazão ao desejo de fazer outra coisa — afinal, se eu escrevo toda semana, não falta oportunidade para variar. E outras às vezes, muitas vezes, eu encaro a folha em branco (orque escrevo à mão) tendo que tirar assunto de onde aparentemente não tem nada. Rubem Braga era bom demais nisso de escrever sobre a banalidade cotidiana. Eu, nem sempre. Mas nessa pegada, e por que estou numa longa maratona de Sex & The City, escrevi sobre… sapatos.
Antes de seguir: o Guia dessa semana tá sem paywall e diferentão. São lugares que eu de fato conheço. Se for escolher um só para experimentar, vá de esfihas na Effendi. E se gostar, espalhe:
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Boa leitura e até sexta que vem,
g.
Comprar para durar
Decidi que precisava de um novo par de botas. Botas pretas, bonitas e sólidas, com um pouco de salto. Não foi uma compra por impulso, foi uma coisa pensada aos poucos. Afinal, não são minhas primeiras botas — e eu já tinha outros pares no armário, incluindo o par que estava nos meus pés quando, saindo de um jantar leve no restaurante de sempre, numa noite paulistana de garoa fina, as solas da minha bota antiga começaram a soltar. As duas, ao mesmo tempo. Deu para chegar em casa, mas, quando acordei na manhã seguinte, elas estavam lá, no chão da sala, ao lado da porta de entrada, me encarando: gastas e cansadas, as botas de toda semana, compradas já há uma década numa edição do Jardim Secreto no Museu da Casa Brasileira, me dizendo: mulher, chega, é hora de parar de insistir, é hora de comprar botas novas.
Parti então numa missão solitária em busca desse novo par. Critérios: ankle boots pretas, de couro, fortes o suficiente para uso frequente, versáteis o suficiente para uma diversidade de situações cotidianas, baratas o suficiente para serem pagas à vista.
Apesar de ter um closet no apartamento alugado onde moro, não sou do tipo que tem coisas demais. Eu ia adorar ter o closet mágico da Carrie, com uma coleção de botas pretas de couro em diferentes alturas de saltos e canos, formatos de bico, estados de uso — para usar com calça jeans ou de alfaiataria, com legging (argh) ou hot pants. As coxas durinhas são um desejo inatingível; passei dessa fase quando tinha uns 25 anos.
Também não é como se eu não tivesse botas, veja bem. Depois da situação lastimável das solas flácidas, mexendo no closet para encontrar outros sapatos precisando de restauro — porque eu tenho o hábito de fazer as coisas durarem o máximo possível —, identifiquei três: o modelo biker que comprei em Nashville em 2012 e que só fica bem com skinny jeans preto; a azul-marinho, justa até o joelho, que comprei num bazar de igreja e que pareceu ótima na hora, mas me deixa achatada e com cara de vovó-garota; e uma ankle boot pontuda, de salto quadrado, bonita e confortável, que comprei numa viagem em 2015 e que passou a última década me acompanhando em reuniões, dates e qualquer outra situação em que eu quisesse estar oito centímetros mais alta e um tanto mais arrumadinha. É bem bonita, essa — e, como quase tudo no meu closet, é de segunda mão. Infelizmente, ganhou aquela textura de couro que foi muito usado, amassado, molhado, atravessado na vida.
Gasto, enfim.
E há também a que eu já contei: a das solas caídas. Confortável, flat, de bico redondo, tão confortável quanto privilégios não questionados. Combina com todos os looks, de uma marca que eu podia bancar em 2015, mas que não posso considerar em 2025*, que teve os saltos e solas refeitos mais vezes do que consigo lembrar, que estava ali me dizendo: foi legal, mas deu o que tinha que dar. Me impressiona como eu podia pagar pelas coisas há dez anos. Não sei se foi meu padrão de vida que baixou demais ou se foi tudo que ficou caro demais — aposto que, na verdade, nem tem diferença. De modo que fiz valer. Usei literalmente até cair a sola. Consertei e usei até cair a sola de novo. Usei com jeans, com sogros, com vestido molinho, no frio e no calor.
Mas chegou a hora de olhar com frieza e dizer: todas as coisas acabam, até as melhores.
Então eu precisava de um par de novas botas de couro reto que me fizessem me sentir nova, gata, chique, bonita e desejável. É para isso que roupa serve. E assim fui eu, no shopping, em busca de algo bom, bonito e que coubesse no meu orçamento atual — para me acompanhar na vinda dos próximos anos.
Amigas, não foi fácil.
Não sou uma pessoa que gosta de fazer compras. Fico escandalizada e constrangida com os preços das coisas. Passei por umas dez lojas, provei dezenas de modelos — canos altos e baixos, de couro sintético e couro de vaca, com fivela e sem fivela, com bico quadrado e bico redondo, de loja grifada e de magazine. Provei tudo, sem vergonha de andar de um lado para o outro no centro da loja testando o conforto nos pés, provar um número para cima e outro para baixo, descartando o que não gritasse na minha cara: é isso!
Mas encontrei.
São bonitas, as novas botas: de couro de vaca, preto e firme, com bico fino (mas não pontudo), cano na altura do ossinho da canela, salto geométrico em forma de V. Não foi nem a mais cara, nem a mais barata: foi a que me vestiu bem. Encontrei — e saí vestindo ao longo de um fim de semana com um jantar, duas festas de aniversário, um concerto, dois restaurantes, um bar, uma caminhada de ida e volta da Avenida São João até a Paulista.
Na segunda, não fui fazer exercícios. Meus pés estavam me matando — esfolados pelo esforço de caber numa nova forma.
🧄 Leia também: Vampirismo Cultural
Tenho andado distraída, por isso fui ver “Sinners” sem saber do que se tratava. Sabia de longe que é o Grande Filme do Ano, que é do Ryan Coogler, que tem uma história no sul estadunidense no começo do século passado e (importante) é um recordista atual de bilheteria que não faz parte de nenhum tipo de "franquia" — descontando "Twin Peaks”, eu detesto franquias, universo cinemático e quetais (isso é assunto pra outra hora).
Pegamos uma sessão das onze da noite numa sala de cinema perto de casa. Logo antes da sessão começar a sala, a†é então vazia, foi tomada por um grande e ruidoso grupo de jovens com uma energia de terceirão. Pensei: putz, fudeu. E errei. A sala toda ficou em silêncio durante a exibição, tirando uma ou outra expressão de susto, ou risada, porque o filme tem bons momentos de humor e tem bons momentos de susto também. É um filme que tem de tudo, tem romance, ação, humor, critica social. É ambicioso, musical, meio piegas. Totalmente atual.
Nesse post, sem paywall, o colega
explica melhor:🤖 Curso: Inteligência Acidental
O colega Substacker
autor da Invenções de Morel, está com um curso novo que conversa com o assunto do momento: Inteligência Acidental propõe o trabalho que ele (bem) chama a arte do prompt, usando o conceito de instrução, comum aos comandos de IA, para investigar a carpintaria que existe por trás de uma concepção criativa de literatura.Bora?
Informações e inscrições no site.
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Bom fim-de-semana!
Como sempre, para falar comigo é só me responder esse email ou deixar um comentário:
Minha saga da bota ainda não acabou. Ainda na procura por aqui.
A Chelsea da Dr. Martens salvou a vida desta flâneuse de joanetes que vos escreve. Caras, mas estão inteiras já há cinco invernos. Não troco por nada.