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12 filmes para ver no fim/começo de ano
"Folhas de Outono", "Pobres Criaturas", "Priscilla", "Pedágio" e um documentário sobre o José Gonzalez.
2023 foi o ano em que voltei a ver filmes. Sim, aqueles longos e não necessariamente episódicos, de preferência no cinema.
Comecei a ir ao cinema sozinha quando tinha, acho, uns doze anos. Nunca parei totalmente, mas precisei me adaptar em diferentes fases — quando meu filho era pequeno, por exemplo, cinema era um programa frequente, e eu ia no gosto dele (óbvio). A época em que morei na Paulista, por estranho que pareça, foi uma das que frequentei menos cinema, apesar de ser a região com a maior concentração de salas no país. Estava, acho, ainda vivendo a ressaca de excesso de filmes da Marvel. E teve a pandemia. Além disso, cinema é constantemente um programa caro, ainda mais cinemão.
Dou uma chance pra todo tipo de filme, mas já tenho idade e experiência suficiente para saber onde me sinto em casa: em salas pequenas, onde o silêncio impera, vendo filmes que normalmente passam à margem do circuito comercial. Não tenho nada contra filme ou sala alguma, sou partidária das pessoas verem o que elas quiserem, como elas quiserem. Seu lance é franquia de filme de hominho fantasiado? Vai lá, faça fila, compre pipoca cara, grite quando o herói aparece, fique para as cenas pós-créditos, seja feliz! Da mesma forma, não quero que ninguém critique meu programa de ver filme antigo no cineclube da Aliança Francesa (que é de graça!) ou no velho-novo Bijou (que é barato!).
Dito isso, esses são alguns dos bons filmes que quero ver agora no final de 2023/começo de 2024. Quase todos no cinema — abri uma merecida exceção.
Folhas de Outono (Aki Kaurismäki)
Quem não está familiarizado com a obra do finlandês Kaurismaki pode ter algum receio, justificado pela sisudez de seus filmes. De fato, eles são silenciosos, às vezes desoladores, com situações rígidas e aparentemente inescapáveis que seus personagens lacônicos precisam enfrentar. Mas debaixo de um grosso verniz de previsibilidade e desesperança há espaço para amor, música e até algum humor.
“Folhas de Outono” acompanha as histórias paralelas de dois trabalhadores de uma área sem futuro de Helsinque, que encontram em karaokê e cinema algum respiro. Está sendo anunciado como “o melhor filme do ano” por causa do prêmio de uma associação mundial de críticos de cinema, o que me parece uma escolha tão ousada quanto a de indicar o árido "Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles" como melhor filme de todos os tempos. Mas, enfim, talvez isso diga algo sobre o que estamos precisando ver enquanto sociedade — mais realismo e menos espetáculo.
É o filme que mais quero ver esse ano e se você não conhece, minha recomendação é aproveitar o hype e ir ao cinema sem saber o que esperar e com a cabeça aberta. Se quiser se preparar um pouco, pode começar pela Trilogia do Proletariado, que está disponível na Mubi, junto com toda a cinematografia do diretor.
Estreia em 30/11. Veja trailer.
Anatomia de Uma Queda (Justine Triet)
Uma morte que pode ter sido suicídio ou assassinato levam ao tribunal uma mãe e seu filho criança deficiente visual. Palma de Ouro em Cannes esse ano, o filme foi selecionado para abrir a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e está na programação do Festival Varilux. Entra em cartaz no Brasil só em fevereiro que vem. Veja trailer.
Pedágio (Carolina Markowicz)
Uma cobradora de pedágio que decide fazer renda extra para financiar o “tratamento” de seu filho com um pastor de igreja pra lá de questionável. Elogiado nos festivais de Rio e São Paulo principalmente pelas fortes atuações. Estreia dia 30. Veja trailer.
Priscilla (Sofia Coppola)
Você não precisa ser fã da Sofia Coppola para admirar o que ela faz. Entendo que, descontando “As Virgens Suicidas”, os filmes são mais bonitos do que bons — o que não é demérito algum, cinema é também uma arte de subjetividades. “Priscilla” com suas boas atuações, ótimos looks e trilha-sonora perfeita tem tudo para entregar um filmaço, e eu curto a ideia de uma Sofia Coppola já madura na direção conduzindo a história de uma mulher que se vê presa na vida de um homem que calha de ser o cantor mais famoso do mundo. Estreia em 26/12. Veja trailer.
Bad Behaviour (Alice Englert)
A estupenda Jennifer Connelly é uma atriz que vai participar de um retiro de silêncio em que as coisas não acontecem como esperado. Gosto demais desse tom de situações absurdas dos filmes dos últimos anos que aqui, pelo trailer, é a tônica. Sem data de estreia nos cinemas brasileiros. Veja trailer (em inglês).
A Batalha da Rua Maria Antônia (Vera Egito)
Momentos-chave da noite de três de outubro de 1968, quando estudantes e professores da Faculdade de Filosofia da USP enfrentaram ataques do Comando de Caça aos Comunistas, de estudantes do Mackenzie, na Rua Maria Antônia, centro de São Paulo. Filmado em preto e branco com atmosfera documental, o filme refaz acontecimentos da data e foi premiado no festival de cinema do Rio. Ainda não tem data de estreia no circuito comercial. Veja trailer.
A Tiger in Paradise (Mikel Cee Karlsson)
A obra do chileno-sueco José Gonzales é tema dessa investigação biográfica que toca em questões delicadas de saúde mental e nas escolhas do mesmo, que além de músico é bioquímico, para lidar com o que é (ou não) real. Não vai passar nos cinemas brasileiros, mas estreia em 08/12 na Mubi. Trailer abaixo:
Pobres Criaturas (Yorgos Lanthimos)
Juro que não daria bola para uma releitura de Frankenstein com mulher no papel do monstro, não fosse o diretor — Lanthimos tem entregado esquisitice atrás de esquisitice com resultados espantosos. Esse tem a Emma Stone como uma pessoa “experimento” criada pelo Willem Dafoe. Estreia só em fevereiro. Veja trailer.
O Melhor Está Por Vir (Nani Moretti)
Eu amo o Nani Moretti seus filmes biográficos e leves, porém nunca banais. Aqui, o diretor de “Caro Diário” é novamente protagonista, um diretor de cinema à frente de uma produção que conta a história do Partido Comunista na Roma dos anos 1950, com repercussões ora políticas, ora afetivas e (aposto) quase sempre engraçadas. Estreia em 04/01. Veja trailer (em italiano).
Vidas Passadas (Celine Song)
Elogiado no circuito de festivais e pela crítica, o romance acompanha dois amigos de infância separados quando a família de um deles deixa a Coreia do Sul e se reencontram décadas mais tarde, primeiro pela internet e depois ao vivo em Nova Iorque. É cotado como candidato à lista de Filme Estrangeiro no Oscar do próximo ano. Estreia em 25/01. Veja trailer.
A Califórnia Filmes, distribuidora responsável, avisa que trará aos cinemas brasileiros outros dois filmes da A24: “Garra de Ferro” e “O Homem dos Sonhos”.
How to Have Sex (Molly Manning Walker)
Três adolescentes, um feriado no balneário de grego Malia e muita bebida. Premiado em Cannes esse ano, é uma história coming-of-age, com reviews que apontam a escolha por um caminho de honestidade às vezes desconcertante. Acabou de entrar em cartaz e logo mais estará na MUBI. Veja trailer.
Sometimes I Think About Dying (Rachel Lambert)
Daisy Riley, em uma aposta corajosa para se livrar do adesivo Star Wars, como uma funcionária de escritório frustrada e entediada, que pensa mais do que seria sadio sobre diferentes jeitos de morrer. Ainda sem data para estreia no Brasil (que eu saiba). Veja trailer.
12 filmes para ver no fim/começo de ano
nossa, amei muito a lista, e fiquei com muita vontade de já ver o primeiro! <3 muito obrigada pelas dicas
Eu não era tão ligado em assistir muitos filmes, mas a pandemia me deixou com esse hábito. O resultado é que tento ver um filme por dia e tento ir pelo menos uma ou duas vezes ao mês no cinema em horário de herdeiro (entre 13h e 16h) 😂
Adorei sua lista e dica: você pode fazer uma watchlist no Letterboxd e deixar pública 😉