Tá Todo Mundo Tentando
Tá Todo Mundo Tentando
Tá todo mundo tentando: iludir
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Tá todo mundo tentando: iludir

Contém: ótimos livros, disco novo do Tim Bernardes, casasbonitas e uma longa lista de coisas a fazer.
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Desemperrar a janela da cozinha usando um martelo e X14, limpar as telas da tv, do computador e do celular, dar uma ordem nos livros e aproveitar para tirar a poeira, pendurar quadros, medir o chão para tentar comprar um tapete, refazer o altar num lugar onde os gatos não fiquem o dia todo pulando por cima das cabeças dos santos, listar todas as tomadas e pontos de luz que não funcionam, parafusar a portinha do armário do banheiro que tá caindo.

São algumas das coisas que vão ficando pelo caminho da rotina, ainda que todos os dias eu arrume algo — hoje: achar um lugar onde as espadas de São Jorge peguem um pouco de sol. E mesmo assim a lista de coisas a fazer, grandes (instalar o varal na área de serviço) e pequenas (lavar as calcinhas) não pára, nunca, de aumentar.

Não sei se veio da minha mãe, do meu avô ou da minha pós-graduação em vida mundana, mas aprendi que de certas coisas eu mesma tenho que cuidar. Por que não chamar alguém, desembolsar um cachê para uma pessoa resolver o parafuso ou a instalação, passar lustra-móvel na mesa, tirar a poeira da estante? Porque na minha cabeça sou eu que faço tudo isso. Minha vida, minha decisão. E assim, as decisões vão acumulando.

Pra além disso, nos últimos dias tenho sido tomada de vontade de fazer coisas, aquela euforia que vocês, pessoas mais animadas, têm sentido há um tempo demorou a chegar aqui, mas chegou. Quero beber drinks gelados numa noite quente, fumar cigarros, rir, passar batom vermelho de manhã. Quero (muito) viajar, escrever um livro novo, ter histórias pra contar. Quero fazer as reuniões e tomar os cafés que tô devendo há tanto tempo. E também quero levar meu filho para ver as Bienais, tirar duas horas de um dia útil qualquer para conhecer o café que meu vizinho indicou, dormir até tarde.

Quero muita coisa e ao mesmo tempo quero descansar. Porque não há tempo pra tudo. Porque, sempre, todos os dias, é dia de trabalhar. Um trabalho que não chega, que nunca é suficiente, porque um quilo de tomates custava X, agora custa 2X e em breve custará 3x — sim além de tudo eu cozinho. E os boletos nunca páram. E quando estou triste compro coisas que não preciso e andei ficando triste demais nos últimos anos — como você.

Como você, também estou exausta. Oscilo entre essa euforia inventada e a realidade imposta de mais uma noite jantando pipoca e dormindo na metade de um episódio repetido de uma série de dez anos atrás. Estou exausta porque cansa fingir que está tudo bem, cansa inventar saídas criativas e cansa varrer a frustração para um canto da casa, esperando ao lado da pazinha a hora de sumir, junto com o resto de lixo acumulado.

Mas apesar da lista de tarefas, apesar das vontades irrealizáveis, apesar do cansaço, é preciso alimentar alguma ilusão de normalidade. É preciso continuar. E ninguém levanta da cama de manhã sem se iludir pelo menos um pouquinho.

por Tiago Lacerda @elcerdo

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🏠 Refúgios Urbanos #publi

A tendência de retorno às casas como principal desejo de moradia e um certo desprezo por itens como “varandas gourmet” são alguns resultados da pesquisa sobre estilo e qualidade de vida no pós-pandemia que a Refúgios Urbanos conduziu recentemente. Itens como proximidade a praças, árvores próximas e jardins aparecem como preocupações constantes, numa busca por espaços generosos, iluminados, ensolarados e aconchegantes.

Em entrevista para o Jornal de Brasília, o criador da Refúgios, Matteo Gavazzi, conta que viu a venda de casas quase dobrar nos últimos dois anos devido a pandemia: acrescenta que a pandemia reforçou a centralidade do lar na vida das pessoas. “Um lugar que às vezes era considerado apenas de transição entre trabalho e lazer voltou a ser o centro do nosso mundo, e isso não mudou com o término das restrições. A casa continua sendo o centro de nossos universos". Já Camila Raghi, sócia da Refúgios, aponta em sua coluna no Imobi Report que essa mudança de comportamento do mercado imobiliário, que é o aumento da busca por casas em bairros residenciais.

Quer sonhar um pouquinho? Chega aqui na seleção de casas de arquitetura assinada da Refúgios Urbanos 🏡

📚 estou lendo

Importante: a TTMT pode ganhar uma pequena porcentagem da venda caso a compra seja efetuada através dos links abaixo. Alguns livros também estão disponíveis em formato Kindle.

A extinção das abelhas - Natália Borges Polesso

"Uma história sobre uma mulher, um gato e um mundo em colapso" que também é uma história sobre solidão, sobrevivência, amor e demais sentimentos que nos fazem humanos mesmo quando tudo ao redor parece estar (e está) desmoronando. O livro concorre na categoria Literatura-Ficção do CCXP Awards 👉 compre por R$35,20 (digital) ou R$43,90 (físico).

Não fossem as sílabas de sábado - Mariana Salomão Carrara

Um acidente, um luto, um remorso do tamanho de um quadro de grandes dimensões que a narradora tenta carregar na calçada logo na primeira página – o novo romance de Mariana S Carrara é curto, veloz e impactante, um livro que pega pelo pescoço eleva até o final. Também recomendo demais os dois livros anteriores da Mariana: "Se deus me chamar não vou" e "É sempre a hora da nossa morte amém". Além de ótima ficcionista, ela domina como pouco a arte de criar bons títulos. 👉 compre por R$35,91 (digital) ou R$53,50 (físico).

Humanos exemplares - Juliana Leite

Um romance sobre passagem do tempo, desilusões, família e os personagens que conhecemos ao longo da vida, o super elogiado romance de Juliana Leite tem como pano de fundo os anos da Ditadura Militar no Brasil. 👉 em pré-venda a partir de R$39,90.

Tudo em vão - Walter Kempowski

Um romance russo com neve, aristocracia e o trauma coletivo da Segunda Guerra Mundial, "Tudo em vão" é a obra prima de um dos mais importantes escritores alemães do pós-guerra e fala sobre a necessidade inescapável de um acerto de contas. Acabou de sair em bonita edição da DBA. 👉 compre por R$40,41 (digital) ou R$89,90 (físico).

leia as dicas da semana passada

👁️ estou ouvindo: "Mil coisas invisíveis" do Tim Bernardes

Eu gosto muito da voz e do violão do Tim Bernardes. Mas também já questionei se gosto mesmo da voz e do violão do Tim Bernardes ou se gosto mesmo é da melancolia de "Recomeçar", de 2017, com canções como "Não", "Era o fim" e "Ela" que são (ainda) adequadas para todo tipo de fossas sentimentais. Bem, "Mil coisas invisíveis" tem se mostrado uma boa chance de entender do que gosto afinal, e folgo em dizer que não é (só) da trilha-sonora-para-chorar-no-banheiro. Mais tranquilo e menos triste, mas sempre melódico e sensível, o disco novo é uma boa companhia para botar a cara na rua num dia de sol, de preferência sozinha. O álbum tem, afinal, certa coisa reflexiva e filosófica própria daqueles que estão de alguma forma encerrando um ciclo - e começando outro. Sobre isso, vale ler a entrevista de Bernardes para a Gabriela Amorim no site da Noize.

🗞️ O abandono do Centro de São Paulo

Virada 2022 / Carlos Alkmin via Getty Images

Esse texto da Milo Araújo no Ecoa foi publicado na sequência da Virada Cultural 2022. Aquela que, você sabe, geral disse que ia dar ruim nos palcos do Centro e, puxa, não é que deu mesmo

"Aquele território está em disputa, e uma festa no meio da rua não apaga os conflitos."

Os motivos listados por Milo (que além de cicloativista e estudiosa de questões urbanas também é diretora de arte e responsável pelo visual de uma certa newsletter que você talvez conheça) são aqueles que a gente conhece: crise social, ações violentas em ocupações, explosão de pessoas vivendo nas ruas, a situação da Cracolândia. É impressionante como em décadas de Cracolândia o poder público não só se mostrou incapaz de conter a situação, como parece que tem atuado para piorar. Essas cenas aconteceram essa semana na Santa Efigênia:

Como resolver? Eu não sei. Mas não sou eu que tenho 30 bi em caixa no comando de uma cidade abandonada. Temos eleições aí. Além de Presidente e Governador, vamos eleger representantes de São Paulo no Senado e na Câmara. Não adianta votar bonito pra um e votar de qualquer jeito no outro. Mais do que nunca é urgente eleger uma bancada comprometida com uma solução para o caos social que é o Brasil bolsonarista. Pesquise nomes, entenda propostas. E, pelo amor de Oxalá, em dois de outubro: vote.

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Uma newsletter sobre o mal-estar da vida na São Paulo dos anos 2020 | por Gaía Passarelli -> http://gaiapassarelli.substack.com