🩸Tá todo mundo tentando: menopausar
Aquele momento da vida em que você começa a perder, perder, perder.
Oi,
Essa é mais uma edição da Tá Todo Mundo Tentando, uma newsletter sobre a vida, bicho, que doideira, enviada toda sexta-feira de manhãzinha.
Antes de seguir: lá no fim dessa edição eu dou dica de três cursos online: meu (sobre newsletter e Substack), da
(sobre a escrita de cidades), e do Tiago Ferro (sobre literatura contemporânea).Na semana que vem eu volto com uma edição especial da Zeladoria.
Como sempre, para falar comigo é só me responder esse email ou deixar um comentário:
Um beijo e até semana que vem,
g.
Menopausar
Se você é uma mulher de uma certa idade que vive mais ou menos online, deve estar sendo impactada por conteúdos sobre a menopausa e sua irmã mais jovem, a perimenopausa: nome que se dá para a primeira fase do climatério, quando que o corpo perde a capacidade biológica de reproduzir.
Eu estou, e não é de hoje. Prova de que o algoritmo erra raramente o alvo: em média, as brasileiras entram na perimenopausa entre os 45 e os 45 anos, com a irregularidade menstrual começando por volta dos 46 e a menopausa em si por volta dos 48.
Parece que há uma editoria coletiva1 disposta a passar adiante informações sobre esse momento da vida das pessoas que menstruam: quando a gente para de sangrar.
Ainda bem, e antes tarde do que mais tarde, porque se você perguntar para sua avó, decerto ela vai dizer que para ela não houve conversa nenhuma sobre o assunto. Sua mãe, provavelmente, também.
a lista de sintomas comuns no período inclui até 100 itens. entre os mais comuns estão insônias, irregularidade menstrual, ondas de calor, alterações no trato urinário, secura da pele e mucosas (incluindo olhos, boca e vagina), irritabilidade, depressão, ansiedade, letargia, perda de memória, incapacidade de concentração, dores musculares, perda da densidade óssea, aumento de peso, acúmulo de gordura nas costas e abdômen, atrofia urogenital e diminuição da líbido. e, sim, eles chegam ao mesmo tempo.
Hormônios são substâncias responsáveis por ordenar tudo que acontece no corpo, incluindo processos de amadurecimento. Mas gêneros biológicos funcionam de formas distintas e as pessoas com útero são apresentadas a essas diferenças na puberdade, que é quando o corpo começa a mudar e quando chega primeiro sinal bruto de que a vida mudou: quando encontramos sangue entre as pernas. É a menarca, a primeira menstruação.
Ninguém escolhe menstruar2, mas pelo menos metade da população mundial passa por isso. Essa mesma população um dia para de menstruar também. É quando sabemos que a vida mudou de novo: quando não há mais sangramento há pelo menos 12 meses. Menopausa é o nome da última menstruação, o extremo oposto da menarca — mas quando ela acontece você não sabe que é a última porque isso não acontece de repente.
Os ciclos vão perdendo regularidade, o corpo vai secando e os sintomas3 vão acumulando e você sente que está enlouquecendo, até que uma hora você está há um ano sem sangrar e, enfim, não tem mais óvulos disponíveis para fecundação. É o fim de uma fase biológica importante e o começo de outra, tão importante quanto.
Não é exagero dizer que a muita gente não tem com quem falar, não leva o assunto para o consultório médico e não recebe informação suficiente sobre reposição hormonal (que já está disponível no SUS4). Apenas engole as dúvidas, agradece não gastar mais dinheiro com produtos menstruais e nem lidar com o incômodo mensal.
Existem algumas pessoas muito privilegiadas, como a (eu sou rica!) Carolina Ferraz no primeiro episódio do Zen Vergonha, o ótimo podcast da Fernanda Lima5 , que não sentem sintomas. Ou pelo menos não sentam tantos sintomas tão extremos. Mas elas são tão exceções quanto as pessoas que chegam na menopausa antes dos 40.
A gente não aprende sobre isso na escola porque talvez seja meio sinistro chegar para os jovens e dizer algo como: olha, ali na frente você para de menstruar e automaticamente fica indisponível, o que significa velha, e ninguém quis falar sobre gente velha até entender que essa é uma geração economicamente ativa6, e historicamente houve pouco interesse em criar uma documentação clínica extensa sobre o assunto, então lá na frente a gente lida com isso aí, beleza?
Então sobra para quem está passando por isso, hoje, usar os recursos atuais para espalhar a palavra e se ajudar. Como a Fernanda Lima. Como a Naomi Watts, que acabou de publicar o ótimo “Vou Te Contar” (saiu no Brasil pela Record) sobre como lidou com a menopausa precoce, e foi certeira ao dizer: “minha geração será a última a sofrer isso em silêncio". 7
A gente perde muita coisa quando chega nessa fase da vida. A gente perde estrogênio, colágeno, hidratação, cálcio, energia e sono. A gente perde uma função, um lugar, um jeito de viver.
Mas a gente também pode ganhar algumas coisas. Tipo a certeza de que envelhecer em 2025 é bem diferente do que era em 1925. A possibilidade de se reinventar, colocar energia em outras coisas.
E ganha também um monte de assuntos com as parceiras que estão enfrentando o mesmo momento: você também acorda suada às tês e meia da manhã? você também está esquecendo o próprio nome? você também está tendo intolerâncias alimentares/olho seco/depressão? você tem uma boa médica para indicar que não custe um rim por hora?
📩 Newsletter amiga da semana
Tem muita gente legal chegando no Substack pt-br nos últimos meses, e a escritora e linguista
é uma delas. Essa semana, ela publicou uma edição que fala tanto sobre o novo momento da plataforma quanto sobre as jornadas que enfrentamos nas diferentes redes de conteúdo:ABC da Newsletter, turma de março
Estão abertas as inscrições para a primeira edição do ABC da Newsletter de 2025: duas aulas com aquilo que você precisa saber para colocar em prática seu plano de ter uma newsletter no Substack em 2025.
O conteúdo é baseado nos meus mais de três anos de Tá Todo Mundo Tentando, participando de programas de mentoria do Substack e conduzindo esse curso que já teve 15 edições.
São duas aulas de duas horas, via Zoom, com aquilo que você precisa saber para criar uma newsletter (ou melhorar uma que já existe!) e a usar o Substack. Custa R$350 e é possível se inscrever usando o cupom escola_de_conteudo_30 para ter 30% de desconto na matrícula:
Lendo e escrevendo as cidades
A partir de abril, a escritora e crítica Mateus Baldi vai ministrar um curso livre de extensão na PUC-Rio com a professora Flávia Vieira, para traçar os caminhos da relação entre cidade e sociedade desde o século XIX. O curso vai abordar literatura policial, representação periférica na literatura e o impacto das vanguardas na transformação das cidades, entre outros temas. É online. Para inscrições e mais informações, siga esse link, e leia/assine a newsletter da Mateus:
Labirintos da Literatura Contemporânea
O Tiago Ferro, autor de “O Seu Terrível Abraço” e “O Pai da Menina Morta", começa em março “Labirintos da Literatura Contemporânea", oferecendo novas perspectivas de debate a partir da leitura de obras decisivas das últimas décadas, de Annie Ernaux a James Baldwin, de Natalia Ginzburg a Chico Buarque. O ciclo vai até maio, aulas são online e ficam gravadas e as inscrições são direto com o Tiago no email tiagoferro2222@gmail.com. Mais informações nesse post:
🔔 Veja também
Bom fim-de-semana!
Há todo um mercado ao redor, claro, que vai de eventos para mulheres 50+ a pílulas mágicas que prometem combater os sintomas mais comuns.
Medicamentos diversos permitem hoje em dia que pessoas escolhem não menstruar, mas esse texto não é sobre isso.
Uma amiga recomendou e passo a dica para a frente: a Fernanda Lima entrevista médicas de especialidades diversas, e traz depoimentos de amigas que também estão segurando essa barra que é envelhecer. O resultado é informativo e acolhedor:
Antes você era só velho, mas como agora você é um velho que gasta dinheiro, então você ganha um recorte econômico-geracional com verbete na wikipedia.
Leia entrevista na Marie Claire.
Eu andei abduzida por esse tema e virei quase um enciclopédia ambulante. Até pensei em entrar na editoria da internet e escrever sobre o assunto, mas acabei não escrevendo (acho que o tal lapso de memória que nos ataca sem dó não deixou eu escrever). To lendo o livro da Naomi. Acho que tem pontos legais, mas me irrita o quanto ela acredita que a reposição hormonal é resposta pra tudo e pra todas. Enfim... cultura americana como a nossa brasileira que tem solução farmacêutica para resolver qualquer problema. Eu não me dei bem com reposição, então sofri um bocado, mas menos que a maioria. Aliás, na semana passada decretei finalmente a menopausa, agora já posso dizer que estou no pós. :)
Amei o tema!!! Parabéns! Quase enlouqueci há 5 anos atrás, quando imaginei que apenas uma boa alimentação , alguns chas e exercícios seriam o suficiente para enfrentar esse verdadeiro arrastão que acontece conosco . E reposição ainda é para poucos !