Para ouvir lendo → “It's better than I ever even knew, They say that the world was built for two”: eu tô até agora cantando "Video Games” após ver os vídeos da Lana Del Rey, acompanhada de uma Billie Eilish em estado de graça, cantando no palco do Coachella. Falo mais sobre a Lana no final desse email.
Oi,
Comecei a newsletter lá no distante ano de 2021, sem nenhum plano além de escrever alguma coisa toda a semana para uma audiência de leitores que começou pequenininha e veio crescendo com o projeto, acompanhando meus (nossos?) dramas da vida cotidiana, andanças pela cidade, histórias de viagem, ficções e experimentações. Três anos depois, é hora de comemorar e anunciar a versão física da Tá Todo Mundo Tentando, que não vejo a hora de poder repartir com vocês.
Três anos
Essa semana, comemorei meio quieta os três anos do primeiro envio da Tá Todo Mundo Tentando.
Foi numa terça-feira feira, 16/04, que mandei para um pequeno grupo de pessoas, algo como 250 emails que estavam pegando poeira numa lista ligada ao meu finado blog de viagens "How To Travel Light” (saudade!), um texto chamado “como voltei a fumar".
Tenho pensando muito sobre o quanto mudei (mudamos) de 2021 pra cá., buscando entender como essas mudanças se relacionam com a ideia de seguir tentando. Minha cabeça sempre volta para a questão da consistência — uma dessas palavras esvaziadas de significado por superutilização, fenômeno bem dos nossos tempos.
Tem a ver com seguir em frente. Mas não é só isso. É também sobre insistir no que você quer ter na sua vida. Insistir no que faz sentido. De um jeito que eu não planejei a fagulha simples de enviar um email semanal para as pessoas, acabou integrando, dando sentido (e, sim, consistência) para a minha vida criativa, profissional e pessoal.
Comecei a Tá Todo Mundo Tentando sem nenhuma ideia clara do que queria que ela fosse. O objetivo era só escrever e enviar uma "coisa” por semana, desejo que vinha depois de dois anos num emprego infernal que falhou em cumprir sua promessa de estabilidade, mas me mostrou a necessidade de saber separar minha vida do meu emprego — provando que lições se repetem enquanto a gente não aprende com elas. Essa demissão no auge da pandemia me obrigou a fazer o melhor possível com o tempo que me foi dado. E esse melhor (além de procurar outro emprego!) era retomar meus assuntos, meus interesses, minhas vontades, minha prática da escrita e, porque não?, minha voz — esse conceito meio difuso.
A TTMT nasceu aí, cresceu rapidamente, ganhou um irmão chamado Paulicéia1 (que depois foi absorvido aqui mesmo2) e teve diferentes fases, como acontece com qualquer projeto que ultrapassa as barreiras das primeiras edições — sempre a fase mais difícil.
A primeira fase, essa aí meio desajeitada, é muito ligada ao momento da pandemia. Eu tava tateando em busca de unidade (consistência!), construindo um lugarzinho seguro onde pudesse expressar o que estivesse sentindo naquela hora tão complicado e, quem sabe, construir conexões no caminho. Foi também uma fase em que escrevi MUITO, porque eram três edições de Paulicéia e mais uma de TTMT toda semana, além dos freelas com outras coisas não relacionadas, mas importantes para pagar as contas. Foi muita coisa.
A segunda fase da TTMT, quando o Paulicéia acaba, é marcada por mudança de casa, confusões de saúde e um desejo desesperado de seguir em frente e deixar para trás aquilo que, como a pandemia, tinha segurado tanto minha vida num lugar ruim. Não foi uma fase fácil, mas foi boa porque a insistência em tentar não demorou a dar frutos. Eu continuava freela, precisava de muita organização para entregar tudo que tinha que entregar por dia, por semana, por mês, e o compromisso inabalável com a newsletter me ajudou a criar uma responsabilidade com a escrita que até então eu não tinha. Aos poucos, essa coisa nova que eu estava fazendo foi ganhando cara, meus temas foram ficando mais claros e eu fiquei mais segura (e feliz!) com o que estava colocando no mundo. Foi por aí que apareceu a parceria com o Tiago ElCerdo Lacerda, que ilustra todas as edições e que deu para a newsletter uma unidade visual. Foi aí também que veio um redesenho, logotipo, formato, edições extras, o Guia, o paywall, além dos cursos de newsletter, feitos de forma independente ou em parcerias como a Escola de Conteúdo e a Escrevedeira.
Agora começa outra fase, uma Era nova, que junta as temáticas, os desenhos, a voz, o Paulicéia, a ideia de trabalhar em temporadas (serão quatro por ano, estamos começando a segunda!), uma mudança também nos cursos de newsletter e no formato dos emails das sextas-feiras — volto, por exemplo, a falar de música.
Essa fase nova também é marcada pelo livro da Tá Todo Mundo Tentando, lançamento da Editora Nacional, com contos inéditos, minhas crônicas favoritas desses três anos e capa do Tiago Lacerda, que estará nas livrarias em maio. O link de pré-venda sai na próxima semana.
Até lá, muito obrigada a todo mundo que também segue tentando 💙
🔗 Zeladoria
“Big Loura”, o clássico da Dorothy Parker, vai ganhar reedição em português pela Companhia das Letras, novamente com tradução e introdução do Ruy Castro. Já está em pré-venda.
"The Freaks Came Out To Write", a história do Village Voice contado pelas pessoas que estiveram nas trincheiras do semanário doidão nova-iorquino, é uma das melhores leituras do ano e, espero, pode ser uma fagulha de inspiração nesses tempos de jornalismo tão desacreditado . Por enquanto só em inglês.
Saiu o primeiro tesar da adaptação de “Cem Anos de Solidão”. A produção do épico de García Márquez (e meu livro preferido da vida) é da Netflix e tem apoio da família do escritor. Eu amei:
🌺 Revisitando: Lana Del Rey, “Born To Die”
A Lana Del Rey é uma coleção de clichês. Ela já nasce, lá no começo dos anos 2010, como um clichê visual de cabelão castanho balançando no vento, olhos delineados e vestido molinho no calor seco da Califórnia, procedimento estético com resultado meio estranho e a cabeça bonita adornada por coroa de flores. A persona Lana Del Rey nasce sem nenhum receio do clichê, pelo contrário, abraça todos e torna-os seus, sem medo e com graça. Vale para a música também. Diferente da melancolia urbana e/ou da euforia fractal de bandas e artistas do período, Elizabeth Grant, transformada em Lana, abraça todos os clichês de ultrarromantismo sussurrado por cima de arranjos de cordas para criar fácil de gostar, mas com alguma perversão, palatável sem perder o verniz cool, um underground que dava pra passar nos anos finais da MTV — e rolou. Born To Die, o disco de 2012, reúne singles de entre 2010 e 2011, como as ótimas “Video Games” e “Blue Jeans” e canções que vieram na esteira desse sucesso independente inicial, como "Million Dollar Man" e "Off to the Races". Nos melhores momentos, é a Lana clássica pela qual, mais de uma década depois, seguimos apaixonados, uma Julie London moderna apaixonada por si mesma, que gosta de orquestrações grandiosas e aceita se arriscar. No mesmo ano, o álbum ganhou segunda versão, dupla, a Paradise Edition, deixando a certeza de que vinha mais aí. É uma estreia cheia de potencial, que permite encarar os defeitos, caso da inconsistência quase infantil das letras, como preparação de terreno para o que vinha aí — no caso, o Ultraviolence, que levou dois anos para sair, e que é assunto da próxima semana.
💌 Newsletter da semana
Newsletter é o novo blog? Acho que a conversa é válida, mas são tantas as diferenças entre o cenário “blogueiro” dos anos 00 e o que estamos vendo hoje impulsionado pelo Substack e outras plataformas, que a comparação fica difícil. Um dos pontos em comum que tenho encontrado, e gostado!, é a chegada de newsletters que falam de música. A do colega jornas Bruno Capelas é uma delas, e na edição dessa semana fala sobre os primórdios do pop brasileiro:
Obrigada por ler até aqui!
Se você gosta da TTMT, considere aproveitar o desconto de 20% para se tornar assinante no plano anual:
A Paulicéia foi uma newsletter que desenvolvi para o Substack Local, um edital de apoio de projetos de jornalismo local, em 2021. A proposta era entrevistar figuras que falassem sobre a cultura em São Paulo de alguma forma. Foi muito legal e ainda acho que dá para retomar em algum momento. Essa foi a última edição, com o Marçal Aquino:
O Guia Paulicéia começou nessa outra newsletter e, quando ela acabou, foi integrada aqui, com edições como essa:
Vida longa à TTMT e seus spin-offs! Livro já garantido na pré-venda <3
Amo amo amo vida longa a TTMT <3