🌎 Tá Todo Mundo Tentando: City Lights
Uma livraria em São Francisco. Stenio Gardel premiado nos EUA. Bristol sound.
Para ouvir lendo → “Only You”. Meus planos para o final de semana são ouvir Portishead num quarto escuro com AC ligado no talo. Quem lê o comecinho de cada edição da TTMT talvez goste de saber que lá no final eu sempre escrevo um pouco sobre música. Mas só um pouco.
Oi,
Eu não vou falar do calor. Mas na edição de hoje falo sobre um lugar que ajuda a espantá-lo. Livrarias costumam ter ar-condicionado e, aposto, estarão tranquilas que nesse final de semana de calor histórico. Também, é tempo de Flip, época em que o tema “livro” fica em alta. Bom pra todos.
Antes de seguir, quero recomendar a leitura de “A Palavra Que Resta", belo romance de Stenio Gardel que acaba de ser premiado no National Book Award1 uma das mais importantes premiações literárias do mundo. O livro foi publicado em 2021 pela Companhia das Letras2, (foi sugestão de uma das primeiras edições da TTMT!) e fala sobre muitas coisas, mas em especial sobre “o poder transformador da palavra escrita”, como bem definiu o juri do prêmio.
Por fim, continuo mexendo no formado da newsletter. Se você notar algo diferente, me fala? ;)
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City Lights
Tem tempo que eu não viajo. Mas sempre quando viajava, marcava na agenda de conhecer livrarias locais. Primeiro que é um programa que, em tese, não custa nada: em livrarias decentes você é livre para vagar, folhear e perder tempo entre as prateleiras sem sofrer assédio ou incômodos. Mas se quiser gastar dinheiro, pode.
Conheci algumas livrarias incríveis. Londres tem a Stanfords, fundada em 1835 dedicada à guias de viagem e atlas. Porto tem a Lello, provável livraria mais bonita do mundo, que ficou famosérrima por ter inspirado o cenário da livraria do Harry Potter. Lisboa tem a Bertrand, no Chiado, a livraria em mais tempo em atividade no mundo. Portland tem a Powell’s, abusada: uma quadra inteira, cinco andares, mapas gratuitos para ajudar você a navegar o lugar, sessões de absolutamente qualquer coisa e muitos livros usados com ótimos preços. No mesmo clima, Nova Iorque tem a clássica Strand (“onde livros são amados”). Minha livraria gringa do coração fica perto de São Francisco: a Book Passage de Marin County, onde passei dias felizes como aluna em três edições da Travel Writing Conference3.
E São Francisco também tem a City Lights. A “livraria dos beats”4 na divisa entre North Beach e Chinatown, vizinha de parede do Kerouac Alley onde turistas e fãs de ”On the Road“ vão tirar foto. A City Lights foi um antro da revolução literária dos anos 1950 e ainda publica livros de poesia marginal, mas hoje dá prioridade a títulos com temas políticos, filosóficos e espirituais — se você pensar em espiritual como alma e cultura, não autoajuda. Como nunca dei muita confiança para a literatura beat (acho que passei da fase) demorei para chegar lá. Só aconteceu na minha última viagem estada em SF, em 2015, quando estava hospedada num quarto minúsculo durante uma crise ansiosa no North Beach Hotel, a uma quadra de distância5.
Numa manhã de sol, com tempo para matar após pagar caro demais por um muffin e um latte numa cafeteria hipster qualquer de North Beach, passei na frente e parei para olhar a vitrine. Avisos atrás do vidro diziam para desligar o celular, para entrar e ler um livro (ou dois, ou mais) sem compromisso — abandon all despair ye who enter.
Lembrei que meu quarto no pulgueiro próximo tinha cheiro de xixi, que eu tinha pelo menos quatro horas até começar a próxima etapa da viagem e que no meu bolso só tinha o dinheiro do transporte. A imagem de uma senhora sentada no chão da livraria, aproveitando um raio de sol e lendo um livro como se na sala de casa, me convenceu a entrar.
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