Tá todo mundo tentando: envelhecer
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Para ler ouvindo ▶️ “Ally, Walk With Me”, do Raveonettes. Acho que conversa com o texto de hoje. A vida vem e a gente aprende a escolher com quem vai andar. Ou deveria aprender. Ainda sobre os Raves: a dupla dinamarquesa é minha banda preferida desde Whip It On, de 2002. Para comemorar os vinte anos do álbum, lançaram no final do ano passado a releitura Rip It Off, com quatro faixas interpretadas pelo Dave Gahan (do Depeche Mode), Black Angels, Trentemoller e PRISMA. Dá para ouvir aqui.
Envelhecer
Trend recorrente no meu feed do Instagram: pessoas 50 publicando foto PB sem filtro, dizendo a idade como se fosse algo muito corajoso. Talvez seja. Eu mesma não participei. Insisto que pareço mais jovem do que sou e por isso acho que minha participação traria certo demérito.
Talvez eu imprima certa jovialidade, mas por dentro a alma é velha. E ainda não cheguei aos 50 (que farei em 2027), mas já entendi o quando os clichês sobre envelhecer são reais. As dores no corpo, os olhos que não funcionam mais muito bem, a ressaca que se torna perigosa, os pais que se tornam preocupação e os filhos que vão viver suas próprias vidas.
Nem tudo é ruim. Pelo contrário. Ao circular entre pessoas na minha faixa etária, percebo que ninguém chegou até aqui ileso. Não há mocinhos e mocinhas. Ninguém é inocente. Todo mundo tem seus podres e sombras. Mas não estamos sozinhos nessa bagunça chamada maturidade.
Ainda sobre colecionando vídeos de temática Gen X. Sei que é preciso um grãozinho de sal ao adotar recortes geracionais gringos para os trópicos, que nascidos em 1977, como eu, tem pouca experiência cultural compartilhada com quem nasceu em países de língua inglesa. É isso que explica, em parte, os Zoomers serem tão virtualmente homogêneos: devido às redes, uma adolescente classe média em São Paulo tem muito mais em comum com uma adolescente classe média de qualquer outra grande metrópole do mundo hoje do que "nos meus tempos".
O que encontro em comum com outros Gen Xers globais são as obviedades esperadas sobre músicas, filmes, desenhos animados, alguns enlatados televisivos, alguns brinquedos. Algumas coisas, no entanto, são só nossas: a morte do Tancredo, o capítulo final de Roque Santeiro, o Plano Real. Mas somos unidos por eventos globais: Copas do Mundo, Olimpíadas, a queda do mundo de Berlim, o fim da URSS, a explosão da Challenge.
Também somos a última geração realmente híbrida, que viveu uma infância desconectada e aprendeu a usar a internet na juventude. Pegamos tudo, telefone de disco e ChatGPT, uma evolução por vez, sempre acelerando TV de botão em preto e branco com 13 canais (só pegava sete) e canais de discussão politica no Discord. Entre enviar cartas pelo correio e ter pelo menos quatro plataformas de troca de mensagens em um pequeno computador portátil que nunca desconecta, todas ativas em todo lugar o tempo todo.
Nos memes há algo a mais, uma constatação de que todos tivemos infâncias e adolescências meio selvagens. Filhos de uma geração que queria ter filhos, mas não queria criá-los, a vida acontecia com bem menos supervisão do que hoje. Também não existia uma discussão coletiva sobre depressão, ansiedade e outros distúrbios. Ninguém da minha geração foi diagnosticada com deficit de atenção, transtorno obsessivo-compulsivo ou bipolar, isso veio depois, mas essas condições existiam. Apenas eram categorizadas como “problema” ou “uma fase” e muitas vezes usadas como justificativa para colocar em uma escola menos exigente, ou apenas desistir de estudar — foi assim comigo. Só entrei em contato com o termo “borderline” após o diagnóstico de uma amiga: eu já era adulta e morava sozinha. E, claro, nem os profissionais e nem os medicamentos de saúde mental eram eficientes como hoje. “Licença por saúde mental” no trabalho é obviamente uma conquista millenial. Mas a gente se virava.
Não acho que seja bom, tampouco prefiro que tenha sido assim. Eu sei o que nos custou. Mas não posso negar que as más escolhas e a falta de acompanhamento também me tornaram quem eu sou agora — e isso não deve ser assim tão ruim. Afinal, sobrevivi. Tenho água, teto, cama, gás encanado, comida na geladeira. Tenho amores, amigos, planos. Às vezes tomo café sentada na escadinha da entrada do prédio, vendo os carros passarem. Às vezes até parece até que o dia começa bem.
🎥 Mubi DE GRAÇA!
E a Mubi que está dando 30 dias de graça para quem lê a Tá Todo Mundo Tentando? Sim, meus amores, essa é sua chance de parar de perder horas em plataformas medianas tentando escolher entre um monte de filmes iguais.
A Mubi é uma plataforma dedicada aos melhores filmes de todos os tempos e, além das seleções de grandes nomes, festivais e escolas de cinema, também tem a melhor interface. Sou assinante desde quando era um fórum para aficionados por cinema (e escrevi muito comentário de filme cabeçudo, não me julgue). Tem filmes dos primórdios do cinema, e filmes de hoje. Tem “Ran” e “Rambo 2”. Tem experimentos artísticos e obras-primas do cinema francês. Tudo bem comentado e recomendado, para você não perder tempo escolhendo — e para arriscar ver coisas que ainda não conhece.
Aproveita o link acima para acompanhar alguns dos filmes que vão entrar na plataforma em março: “Férias Permanentes” e “Estranhos no Paraíso” do Jarmusch (sim, é um favorito), “Era Uma Vez em Nova Iorque” e o espetacular “O Homem Que Caiu na Terra", clássico de 1976 com o Bowie. O Escotilha fez um post completo com todos os lançamentos do mês.
Já assina a Mubi e viu alguma coisa muito boa? Me conta aqui:
🎸 The Brian Jonestown Massacre no Cine Joia
Bem, amigos: uma das grandes bandas dos nossos tempos finalmente vai pisar em São Paulo. É o Brian Jonestown Massacre, de Portland, e se você não sabe do que estou falando, bem, não vou perder tempo argumentando. Mas, sério, corre aqui. Data única, no Cine Jóia, em 20/04. Ingressos diretamente com a casa.
🏫 Curso Roupateca na ESPM
Consumo consciente de moda é o tema do primeiro curso da Roupateca na ESPM. Com participação da estilista Flavia Aranha e aulas sobre greenwashing, cadeia produtiva e estratégias para negócios sustentáveis, o curso está com inscrições abertas e acontece (online ou presencial!) entre os dias 20 e 25/03.
A Roupateca, venho contando desde novembro passado, é um acervo compartilhado de roupas de todos os tipos, de festa a jeans, para todos os corpos. Fica em Pinheiros, e funciona com assinatura: você recebe uma quantidade de roupas por período e vai trocando. Não é exagero nenhum dizer que ser roupatequer está mudando totalmente como me visto e consumo - para melhor, claro. Conheça o funcionamento, os planos e o acervo, e fale com a equipe para experimentar.
💌 Leia também + PROMO!
A TTMT já tem mais de oitenta edições publicadas, sem contar as edições especiais, e todas elas estão disponíveis para apoiadores. Para ter acesso a todo o arquivo, e ainda receber o Guia Paulicéia todas as quintas-feiras, torne-se apoiador/a aqui. Você terá duas semanas de acesso gratuito para ler e decidir se quer continuar * promoção válida até 10/03, apenas para assinaturas no plano anual, de R$230/12 meses.
ai, gaía... brigada.
Sempre ótimas reflexões.
Eu vou fazer 60 anos em maio deste ano e mantenho uma saúde excelente.
A dica é alimentação bem saudável, nadar duas vezes por semana e andar uns 15-20 km de bike aos domingos. Não bebo nem fumo.
E, é claro, manter minha saúde mental através das técnicas de Dianética.
Recomendo a terapia em casa de Autoanálise!