🪔 Tá Todo Mundo Tentando: Thiruvananthapuram
Um cartão postal de 2014 + curso Shakesperianas com Nara Vidal + Balaclava Fest
Para ouvir lendo → “So Good at Being in Trouble”, do Unknow Mortal Orchestra, que toca em São Paulo logo mais. Tá na playlist da Tá Todo Mundo Tentando no Spotify. E também nesse especial do Guia Paulicéia/Balaclava Fest que saiu quarta-feira (antes do feriado!).
Oi,
Não sei quem tá lendo hoje. Afinal, para muita gente é emenda de feriado e quem não está trabalhando normalmente não está muito de olho em emails — não é meu caso. Eu deveria ter trabalhado ontem, mas o feriado de Finados foi marcado pela ida ao cemitério despedir de um amigo antigo da família. Acho que a última vez que eu tinha estado em um cemitério num dia de Finados ainda era criança, não tinha memória dos corredores cheios de famílias com vasos de crisântemos, o trânsito intenso de entrada e saída. Esse foi o terceiro velório/enterro que presenciei esse ano. Ninguém gosta de enterros, ninguém gosta de despedidas. Mas é inevitável e imenso o ato de estar presente nesses momentos. Foi bonito ver as pessoas ao redor do caixão cantando e batendo palmas, dando ritmo à descida, amigos de décadas conversando depois entre os jazigos, lembrando momentos passados e combinando coisas futuras. A vida passa muito rápido. Aproveite essa sexta-feira para viver algo bom perto de quem você ama.
O texto de hoje é outro novo-velho. Encontrei um arquivo grande de textos que não estão online, e tenho editado alguns, na intenção de colocar parte dessa produção online.
E para quem é apoiador: terça-feira sai a edição de novembro da Zeladoria — aqui está a de outubro!
Bom finde,
g.
Thiruvananthapuram
A rua ao lado do West Fort parecia um tipo de forno, mesmo ás cinco da tarde. Bibocas fervendo chai e bancas de hot chips emanavam calor para as centenas de pessoas caminhando, esperando, observando ou comprando um pouco de tudo nas virtualmente infinitas opções de lojas e camelôs. Uma urbanidade nova para mim, com enormes prédios comerciais e outdoors de produtos domésticos misturados às mulheres enroladas em saris coloridos e homens vestidos com lungis, os confortáveis saiotes de algodão branco do sul da Índia.
Depois de duas horas perdida nas ruas do Chaalai Bazaar, meu único desejo era voltar para a tranquilidade do meu quarto do Taj Hotel, no balneário bacana de Kovalam, onde estava hospedada a convite do bureau de turismo local, parte da agradável missão de escrever artigos em blogs1.
O trajeto levava algo como quarenta e cinco minutos de distância do centro de Trivandrum City, usando uma linha de ônibus que eu não sabia onde encontrar. Tinha descido ali mesmo algumas horas antes, mas o contato inicial com o famoso excesso sensorial das cidades asiáticas já atrapalhava meu senso de localização. Minha primeira lição de pessoa perdida na Índia: é possível contar com a paciência local. Quem me ajudou foram os comerciantes do centro de compras, acostumados aos turistas perguntando “the bus to Kovalam, please”. Numa mistura de inglês quebrado com mímica e sinalizações manuais, encontrei o ponto certo e esperei junto de dezenas de mulheres amontoadas no terminal improvisado, escuro e cheio de poeira — não diferente dos nossos brasileiros.
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