Oi,
Em novembro de 1999, o escritor californiano Chris Baty reuniu cerca de vinte amigos na região da Baía de São Francisco com uma proposta tão improvável quanto irresistível: escrever um romance em 30 dias. A ideia, que parecia uma piada entre colegas, virou o NaNoWriMo, abreviação de National Novel Writing Month, e se tornaria um dos maiores movimentos literários coletivos do mundo.
A regra era simples: escrever 50 mil palavras entre 1º e 30 de novembro. Não importava o gênero, o tema nem a qualidade literária: o objetivo era apenas terminar. O que nasceu como um desafio local, movido a café e planilhas de contagem de palavras, cresceu em duas décadas para uma comunidade global com centenas de milhares de participantes — os “Wrimos” —, uma fundação sem fins lucrativos e parcerias com escolas, bibliotecas e editoras.
O NaNoWriMo ajudou a democratizar a escrita e a espalhar a ideia de que criatividade requer compromisso. Tornou o ato de escrever um romance, algo tradicionalmente solitário e intimidante, num exercício coletivo, público e acessível. Foi ali que muitos autores descobriram que disciplina e hábito podem ser mais importantes do que inspiração.
Mas o projeto institucional chegou ao fim. Em 2025, a organização sem fins lucrativos por trás do NaNoWriMo anunciou seu encerramento definitivo, após uma série de crises financeiras e de reputação. Entre 2023 e 2024, surgiram (e em alguns casos, ressurgiram) denúncias de assédio em fóruns oficiais, críticas à gestão de segurança, controvérsias sobre o uso de IA e queda nas doações. O desgaste foi fatal: sem dinheiro nem confiança da comunidade, a estrutura que sustentava o desafio não resistiu.
O que sobrevive é a proposta: novembro ainda é o mês em que milhares de escritores — amadores ou profissionais, sozinhos ou em grupos — tentam cumprir o pacto de escrever 50 mil palavras em 30 dias. Um romance curto, um projeto novo, uma investigação pessoal, planejado ou no instinto, vale tudo.
Em 2025, a tradição continua de forma independente. A comunidade global se reorganizou sob iniciativas diversas, como essa do Freewrite, na intenção de manter vivo o espírito original: escrever rápido, sem medo, com curiosidade e prazer. Não há regras rígidas, nem validação externa — apenas o convite para usar novembro como laboratório de escrita. Seja um romance, diário, roteiro, crônica ou ensaio, vale tudo.
Aqui no Substack, a turma do
está promovendo algo similar. Começa no post abaixo. Está em inglês, e todo mundo é bem-vindo para participar. Mas a real é que você não precisa se inscrever em nada. Basta se comprometer com você mesma (mesmo, mesme).Vamos?
Escrever sobre escrever é um dos maiores clichês de escritor que tem. Mas é útil tanto para quem escreve (aquela coisa de botar ideias no lugar) quanto para quem lê, como provado por uma porção de livros de escritores sobre escrever — se você escreve, é bem capaz que já tenha lido algum.
O tema já apareceu aqui na TTMT algumas vezes. Numa lista mental rápida recuperei esses cinco textos:
TTMT: escrever (2021)
TTMT: ter um diário (2021)
TTMT: ter uma carreira (2022)
TTMT: escrever na Freewrite (2023)
TTMT: escrever (2) (2023)
Se você está numa pilha de escrever newsletter, tenho um anúncio para você: estão abertas as inscrições para a última edição do ABC da Newsletter em 2025, que vai acontecer em três aulas na próxima semana. Depois disso, só em fevereiro/26. Todas as informações + inscrição nesse link.
Como sempre, para falar comigo é só responder esse email ou deixar um comentário.
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