Aviso importante:
Depois da edição especial que vai ao ar no dia 31/07, a Tá Todo Mundo Tentando entra num breve recesso. Não é o primeiro, tampouco será o último. Farei alguns envios especiais nessas semanas, para testar umas coisas, mas sem pressão. Uns dias para viajar, respirar, escrever, fazer coisas legais, ver amigos ou ficar deitada no sofá olhando para o teto. Nova edição em 15/08. Até já.
Fazer menos
Outro dia eu li uma frase mais ou menos assim: o excesso é o novo vazio. Não sei onde foi, não sei de quem é, porque esquecer as coisas é meu modo normal - hoje, mais do que nunca. Talvez tenha sido num card de Instagram, no LinkedIn, uma benção do chatgpt. Tanto faz. Guardei porque resume bem o que tenho pensado (sentido?) sobre produtividade.
Por muito tempo, fui boa em fazer muito. Listas, prazos, projetos simultâneos. Já ouvi de amiga “nossa, mas você produz muito”. Certo orgulho, nem disfarço. Em qualquer aspecto criativo, a produção é importante.
Mas eu nunca quis ser workaholic. Isso veio da necessidade pura e simples. a Dorothy Parker respondendo “need of money, dear” pra pergunta “por que você escreve?” é meu animal interior demais.
Nunca fui boa em muita coisa, mas a vida me tornou uma pessoa relativamente organizada e dotada de alguma eloquência, e tô aí, há uns vintes anos, tentando colocar meus soft powers pra jogo na indústria vital da comunicação.
Durante muito tempo, a ideia de ser uma máquina de fazer coisas foi me dando uma sensação de segurança, como se estar ocupada fosse prova de que sou capaz, de que vai dar certo, de que. O sistema, claro, tente a recompensar quem é assim. Quem entrega rápido, fala alto, aparece o tempo todo, se projeta. Fake until you make it.
Agora, ando com cada vez mais vontade de fazer menos. Não (só) por cansaço, mas como recusa consciente. Dentro das possibilidades, num mundo em que você tem que o tempo todo, dizer não é uma rebeldia. Contra o ritmo absurdo das redes, contra a lógica de mercado que mede tudo em engajamento, alcance, retorno, numa linha para o lado direito que tem que estar sempre indo para cima.
Na contramão da cultura da pressa, existe valor em escolher a lentidão, o critério, o silêncio.
Produzir menos, escrever com tempo, pensar antes de opinar. Às vezes nem opinar. Deixar uma ideia marinar por semanas antes de transformar em texto, desencanar, aceitar que nem tudo precisa virar conteúdo.
As IAs generativas chegaram com a promessa de “otimizar” nossa vida. Mas vamos falar sério: otimizar é o caralho. Elas não foram criadas para que a gente trabalhe melhor, e sim para que a gente trabalhe mais. O sistema quer que você produza o dobro no mesmo tempo, e vai te convencer que é melhor assim. Quem lucra com isso? Aposto que não é você.
Enquanto isso, estultices na linha “trabalhe enquanto eles dormem” e coachs de meia pataca empurram a ideia de que descansar é preguiça, apostando tudo na falácia da meritocracia. Ainda.
Negar a lógica que mede o valor de alguém pela quantidade de coisas que ela entrega é uma das rebeldias urgentes dos nossos tempos.
Desacelerar pode ser uma escolha política, uma maneira de lembrar que a gente não é só mão de obra, que tempo livre não é pecado, que fazer bem feito às vezes exige não fazer nada por um tempo.
Principalmente, lembrar que o mundo não precisa de mais posts, precisa de mais pausa, precisa de arte, precisa de gente capaz de pensar por sí.
Bom, pelo menos eu preciso.

Se você, como eu, anda cansada de correr atrás da própria sombra, aqui vão algumas dicas de como fazer menos sem bagunçar (demais) sua vida:
6 maneiras realistas de fazer menos
1. Observe seu tempo.
Antes de cortar, entenda para onde ele está vai: reuniões, feeds, tarefas repetitivas. Pare, olhe, pense. Vale fazer um diário de uma semana para enxergar onde o esforço não está rendendo nada. Se preciso, crie coragem e instale um time tracker no celular: eu aposto um docinho que seu tempo livre está indo para telas.
2. Faça um “quiet quitting” da vida.
Reduza expectativas e pare de ir além do necessário, no trabalho e fora dele. Nem tudo precisa ser épico.
3. Pratique dizer não.
Proteger o seu tempo começa com recusar convites, tarefas e favores que você não pode ou não quer fazer.
4. Pare de multitarefar.
Fazer mil coisas ao mesmo tempo, só aumenta o estresse e a chance de erro. Foque em uma coisa por vez.
5. Descubra seus horários de foco.
Guarde suas melhores horas para tarefas difíceis e necessárias, deixe o resto do dia para o que der.
6. Não se culpe por fazer menos.
O descanso é parte do processo. A vida não pode ser só uma sequência infinita de tarefas que você faz para os outros.
💌 Newsletter da semana: Nevoeiro
A partir da leitura de “Produtividade Lenta”, de Cal Newport, a
articula, na 16ª edição do seu Caderno Amarelo, uma defesa da qualidade sobre a quantidade, rejeitando a fantasia do gênio multitarefa, desmistificando os atalhos criativos e compartilhando como a pesquisa (mesmo que disfarçada de procrastinação!) pode ser porta de entrada para universos inteiros.Do Egito de 1954 à Califórnia dos cultivadores ilegais, o que importa é como cada detalhe, por mais banal que pareça, pode carregar o sopro de vida de uma narrativa. Adequadamente, Carol escreve devagar, com exigência, com dúvidas. Mas persiste, como fazem os bons criadores, e compartilha generosamente seus bastidores de tentativas, erros, acertos. É um tipo de afeto radical.
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Oi, Essa é mais uma edição do Guia Paulicéia, o compilado de coisas legais para ver/fazer em São Paulo enviado semanalmente para apoiadores da Tá Todo Mundo Tentando. Algumas são para curtir nos próximos dias, outras são um “vem aí”, para se programar desde já.
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Bom fim-de-semana!
Como sempre, para falar comigo é só me responder esse email ou deixar um comentário:
Precisamos redefinir o conceito de riqueza. Tempo de ação e tempo para reflexão. Do contrario seremos sempre um rebanho correndo para lugar nenhum.
Tentemos ser mais lentas e menos hiperconectadas (com as máquinas, ao menos). Boa parada!