Para ler ouvindo: "Karmacoma" do Massive Attack. Já botei na playlist do Tidal, mas vale a pena abrir no Youtube pra ver o vídeo.

🏢 Um prédio novo
De novo, o novo apartamento não tinha nada.
Janelas emperradas, piso ancestral de cerâmica feia meio quebrada, tomadas padrão anos 70 e lustres e arandelas do tempo da construção do prédio — algo como 1958. Charmoso, sim, como quase tudo no novo bairro: uma área plana e arborizada, plena de faixas de pedestres e de pequenos comércios. Mas um charme meio decrépito, ansiando por renovação.
Entrei pela porta, de madeira escura por fora e branca por dentro, no dia mais frio do ano, há pouco mais de seis meses. Tudo era caixa de papelão e poeira. Tomei um banho de banheira para tentar espantar o gelado dos ossos, sem sequer perceber que a água estava suja. Nos dois dias seguintes senti tanto frio, de dentro pra fora, que logo estava no pronto-socorro, coberta por umas cinco camadas de roupa enquanto as pessoas na rua usavam camiseta.
Fiz muitas mudanças na vida e essa foi de longe a mais difícil. Talvez por ter muitas camadas. Em um período curto, encerrei um projeto importante e um relacionamento ruim, ao mesmo tempo em que voltei pro SPC. Tive que descobrir o funcionamento do lugar ao meu redor, constantemente assombrada pela certeza de ter tomado uma má decisão — eu gostava de onde estava antes e agora tinha que encarar, sozinha e doente, os resultados de uma mudança que não deveria ter acontecido.
Levei uns três meses para começar a sentir calor, a ter rotina, a achar os lugares certos para as coisas. Só me percebi instalada quando, numa tarde qualquer, o sol rasgou o ar por uma das (grandes) janelas da sala, os gatos entenderam o recado e começaram a se esticar.
Agora, finalmente, verão: sou amiga do jornaleiro, sei os nomes dos porteiros, posso abrir fiado no bar & lanches da esquina, o dono do restaurante sírio me dá doces de presente e eu finalmente encontrei um supermercado pra chamar de meu. Quase toda a mobília segue onde a encostei quando entrei pela porta naquela manhã gelada, mas agora meus santos têm um lugar pra estar, (quase) todas as tomadas funcionam, as paredes estão cheias, os travesseiros são novos e a planta do meu quarto cresce que nem mato, sempre um bom sinal.
Como é férias, as crianças brincam o dia inteiro na área comum. Talvez animados pela presença solar, os idosos passam a tarde nos bancos, conversando. Casais jovens e gente solta, como eu, circulam o dia todo, abrindo e fechando o portão ao lado da guarita, para passear com os cachorros. O Pianista Misterioso continua fazendo trilha sonora de quase todos os dias, e agora tenho um vizinho de cima que, como eu, gosta de White Lotus.
O verde do jardim anda decorado por fiozinhos de luzes de Natal e acende de noite. Para os morcegos que circulam ali de noite, não fez a menor diferença. Sei que logo mais o inverno volta, mas agora sei também o motivo de tanto frio: um amplo vão vazio debaixo do meu chão. Para isso: tapetes. Quando o frio voltar, terei tapetes coloridos.
🛌 Férias
A partir de amanhã, a TTMT vai tirar uma folguinha. Volto na segunda quinzena de janeiro.
Para VOCÊ, pessoa maravilhosa e engajada e interessante que apoia a TTMT, o Guia Paulicéia continua normalmente, com uma parada apenas na semana entre Natal e Reveillon. O email com dicas de livros e afins também chega no final de dezembro.
📚 Audiolivros da Todavia
A Todavia me convidou para experimentar os recém lançados audiolivros da editora. São cinco títulos: "A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil" (Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias, narrado pelo ator Alexandre Rodrigues), "Doramar ou A Odisseia" (Itamar Vieira Junior, narrado pelo ator Ivan Vellame), "Mas Em Que Mundo Tu Vive?" (escrito e narrado por José Falero), "Raul Seixas, Não Diga que a Canção Está Perdida", (Jotabê Medeiros, na voz do ator Nizo Neto) e "Suíte Tóquio" (Giovana Madalosso, narrado pela autora). Eu escolhi o primeiro, que ainda não tinha lido, e o livro de crônica do Falero, que é um dos meus preferidos do ano (saiu nessa edição da newsletter).
A editora acredita que da mesma forma como os podcasts se tornaram um hábito um hábito popular no Brasil, os audiolivros têm o potencial de conquistar novas audiências. Eu, que tenho o costume de ouvir livros há uns bons anos, acho que um empecilho é justamente a pouca oferta e baixa qualidade de livros em pt-br, que a Todavia agora ajuda a suprir!
Os livros estão disponíveis no Kobo e também no Google Play. Ambos os apps são nativos para quem usa Android, mas estão disponíveis pra download na App Store para quem usa iOS.
Para saber mais:
👗 Roupateca #parceria
Oi meninas, turopom? Já achou lookinho pras festas? A Roupateca ajuda nesse rolê e fica aberta até 23/12 de tarde. Dá tempo tanto de localizar a roupa para Natal e Reveillon quanto de montar uma malinha esperta pra viajar.
A Roupateca é um acervo super bacana de compartilhamento de roupas. Para conhecer e experimentar, vai no site e usa o código GAIA15 para ter 15% de desconto no primeiro mês de assinatura de qualquer plano mensal!
Tá todo mundo tentando: um prédio novo
Ysserá kissinhorinha ficará brava comigo se eu - olha que chique!... - perguntar peremptoriamente por que /\IND/\ não voltou?!?... Espero estar tudo bem por aí e que venham muitas inspirações em MMXXIII.
O meu computador com vontade própria havia selecionado o M/\S VOCÊ V/\I SOZINH/\? para a barra de favoritos e ele terminou sendo ocultado (não teve uma época onde ficou sem ser gravado?). Agora, reencontrei o ícone em meio as cinzas da quarta-feira pós-C/\RNIV/\LE ('tô precisando rever essa série, porém, com as temporadas perdidas antes, porque a descobri quando ia ao ar pelo ésSeBesTeira, mas me incomodava, pois detesto trem dublado). Gostei da ideia dessas desconfortáveis crônicas urbanas atentas.
Arborização, morcegos, gatos (prefiro chamá-los de FELLINI🐱S), pianista misterioso, entorno amistoso, gente de todas as idades, preventivos tapetes coloridos, planta no quarto para te sufocar a noite 😂 e White Lotus. Tomara ninguém do voraz mercado imobiliário ouça o animador conteúdo humanístico narrado aqui, ou lançará sobre a região o seu maldito R/\IO GENTRIFIC/\DOR. Vi uma foto aí pela inFernet, com um mordaz cartaz colado em um muro, jocosamente advertindo!...:
''Gentrification in progress. There'll be cupcakes!'' 😂😂😂😂😂😂🤦♂️
No estranho, porém, divertido seriado SH/\MELESS ocorreu uma investida assim no subúrbio onde os personagens principais viviam, mas não vi a temporada seguinte para saber como a ameaça evoluiu ou se foi rechaçada. Espero demorar a ocorrer por aí ou que nunca aconteça. Enquanto isso, curta cada momento e os tipos humanos únicos que certamente estão em cada esquina. Estou correndo o risco de nada do que foi narrado aqui pertença ao seu cotidiano - ninguém lhe decretou não poder ser um pouco ficcional, né? -, mas foi bom imaginar haver uma vizinhança acolhedora em algum lugar.
Vou adorar ouvir tudo o material perdido nos complicados meses anteriores, quando éramos assolados por um MILICI/\N💀 a guisa de Presidente. Trará bons ares e renovação.
Inté, GêPê!
Obrigado.
Pardon pour le textón.
/\lex Rossimartin,
Sete (7L) Lagoas,
MIN🔺S GER/\ES,
Brasil Dist(r)ópico,
em 21 + 1 de FERVEreiro de 2023.
Mais um texto incrível!!! A "Tá todo mundo tentando" foi uma das melhores descobertas em relação a escrita que eu tive esse ano!!! Tenha ótimas festas e um 2023, repleto de inspiração e conquistas... ❤️🎄🎅🏼